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Francisca da Chaga dos Santos, moradora do Novo Horizonte |
O projeto de extensão “Escritos
em Movimento” está obtendo testemunhos valiosos sobre as primeiras lutas
organizadas em Florianópolis por moradia, representando um intenso período de
lutas pelo direito pleno à cidade. A entrevista feita com Francisca das Chagas
dos Santos, a Chica, moradora do Novo Horizonte, localidade que faz parte do
bairro Monte Cristo, na área continental de Florianópolis – a quarta do projeto
– divulga mais um testemunho de como as pessoas envolvidas naquelas lutas experimentaram
e interpretaram os acontecimentos. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=MpVwqj2JvkE
A experiência de ouvi-las é
muito rica porque traz à tona os pontos de vista de quem organizou, de quem
apoiou e de quem ocupou as áreas, com ênfase nas primeiras ocupadas, Novo
Horizonte e Nova Esperança, também no Monte Cristo.
Outro
ganho importante do projeto é reunir trabalhos acadêmicos, pesquisas e documentos
em geral sobre o período. Já foi postado no blog do projeto mais um artigo de Francisco Canella - doutor em Ciências
Sociais e professor adjunto do Departamento de Ciências Humanas da Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC) - intitulado “Cidade turística, cidade de
migrantes: movimento dos sem-teto e representações sociais em Florianópolis
(1989 - 2015)”.
O artigo analisa as
representações produzidas em torno dos conflitos protagonizados pelo movimento
sem-teto em dois diferentes momentos: no início dos anos 1990 e de 2012 aos
dias atuais. Diz o autor: “As pesquisas que dão base ao artigo foram realizadas
por meio de entrevistas, análise de matérias veiculadas na mídia local e a
observação participante. A história dos sem-teto é relacionada com o
crescimento urbano de Florianópolis e com as representações sobre a cidade e
seus atores, e revela o modo como o migrante é estigmatizado no processo de
construção da imagem de Florianópolis como cidade turística.” O artigo pode ser
consultado em: http://libertas.ufjf.emnuvens.com.br/libertas/article/view/2937/2209
Acentua-se que, em se tratando de Florianópolis, também vale a máxima
de que a história é contada pelos “vencedores”, que, especialmente através dos grandes
meios de comunicação, são as vozes dominantes a ditar os rumos do
crescimento/desenvolvimento da capital catarinense.
Desde a
década de 1980, Florianópolis desenvolve uma estratégia de marketing ancorada
no potencial turístico e na qualidade de vida, buscando ser referência de
modernização tecnológica. Nesse sentido consolidaram-se dois slogans, “Ilha da
Magia” e “Floripa”. Em 1991, com a criação do mercado comum entre o Brasil, a
Argentina, o Paraguai e o Uruguai, a capital catarinense passou a ser divulgada
pelo governo local como “A Capital Turística do Mercosul”. Mas a que preço?
Este
projeto de extensão busca, portanto, contar outras versões da história, expressar a voz daqueles que na maioria das vezes têm a voz silenciada, dando visibilidade às lutas de
pessoas, grupos e movimentos sociais que têm seu discurso minimizado/silenciado
nos grandes meios de comunicação. Compreender essas experiências vividas é eleger e sinalizar, também,
caminhos a serem percorridos na luta pelo direito à cidade.
Por isso convidamos
todxs a ver a entrevista de Francisca
das Chagas dos Santos. Ela participou da ocupação feita no dia 27 de julho de
1990 e fala sobre as dificuldades enfrentadas naquele período e o papel da luta
e do trabalho coletivos.
Por Míriam Santini de
Abreu, jornalista