terça-feira, 24 de maio de 2016

O Novo Horizonte e a voz de Chica: mais uma entrevista do Projeto “Escritos em Movimento”

Francisca da Chaga dos Santos, moradora do Novo Horizonte
O projeto de extensão “Escritos em Movimento” está obtendo testemunhos valiosos sobre as primeiras lutas organizadas em Florianópolis por moradia, representando um intenso período de lutas pelo direito pleno à cidade. A entrevista feita com Francisca das Chagas dos Santos, a Chica, moradora do Novo Horizonte, localidade que faz parte do bairro Monte Cristo, na área continental de Florianópolis – a quarta do projeto – divulga mais um testemunho de como as pessoas envolvidas naquelas lutas experimentaram e interpretaram os acontecimentos. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=MpVwqj2JvkE

A experiência de ouvi-las é muito rica porque traz à tona os pontos de vista de quem organizou, de quem apoiou e de quem ocupou as áreas, com ênfase nas primeiras ocupadas, Novo Horizonte e Nova Esperança, também no Monte Cristo.

Outro ganho importante do projeto é reunir trabalhos acadêmicos, pesquisas e documentos em geral sobre o período. Já foi postado no blog do projeto mais um artigo de Francisco Canella - doutor em Ciências Sociais e professor adjunto do Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - intitulado “Cidade turística, cidade de migrantes: movimento dos sem-teto e representações sociais em Florianópolis (1989 - 2015)”.

O artigo analisa as representações produzidas em torno dos conflitos protagonizados pelo movimento sem-teto em dois diferentes momentos: no início dos anos 1990 e de 2012 aos dias atuais. Diz o autor: “As pesquisas que dão base ao artigo foram realizadas por meio de entrevistas, análise de matérias veiculadas na mídia local e a observação participante. A história dos sem-teto é relacionada com o crescimento urbano de Florianópolis e com as representações sobre a cidade e seus atores, e revela o modo como o migrante é estigmatizado no processo de construção da imagem de Florianópolis como cidade turística.” O artigo pode ser consultado em: http://libertas.ufjf.emnuvens.com.br/libertas/article/view/2937/2209

Acentua-se que, em se tratando de Florianópolis, também vale a máxima de que a história é contada pelos “vencedores”, que, especialmente através dos grandes meios de comunicação, são as vozes dominantes a ditar os rumos do crescimento/desenvolvimento da capital catarinense.

Desde a década de 1980, Florianópolis desenvolve uma estratégia de marketing ancorada no potencial turístico e na qualidade de vida, buscando ser referência de modernização tecnológica. Nesse sentido consolidaram-se dois slogans, “Ilha da Magia” e “Floripa”. Em 1991, com a criação do mercado comum entre o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, a capital catarinense passou a ser divulgada pelo governo local como “A Capital Turística do Mercosul”. Mas a que preço?

Este projeto de extensão busca, portanto, contar outras versões da história, expressar a voz daqueles que na maioria das vezes têm a voz silenciada, dando visibilidade às lutas de pessoas, grupos e movimentos sociais que têm seu discurso minimizado/silenciado nos grandes meios de comunicação. Compreender essas experiências vividas é eleger e sinalizar, também, caminhos a serem percorridos na luta pelo direito à cidade.

Por isso convidamos todxs  a ver a entrevista de Francisca das Chagas dos Santos. Ela participou da ocupação feita no dia 27 de julho de 1990 e fala sobre as dificuldades enfrentadas naquele período e o papel da luta e do trabalho coletivos.


Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

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